A humanidade que insiste em existir
Este é um texto escrito num momento em que o meu corpo ainda tenta se acostumar com a mudança do fuso horário. Austin fica 3h “atrás” de São Paulo e me deixa com a constante sensação de estar atrasada.
Vim para mais um SXSW, evento que costuma me dar sentimentos conflitantes e talvez por isso seja tão bom vir para cá. Emma, minha filha (que já está com cinco anos, queridos inscritos que estão aqui desde quando eu nem pensava em ficar grávida), costuma dizer que se sentir assim é ficar estressadinha feliz.
Estressadinha.
Feliz.
Duas emoções que, juntas, formam uma sensação de estar perdendo algo, ao mesmo tempo que relembro o privilégio e alegria que é estar aqui.
Uma das tarefas que faço ao ir para um evento é preparar objetivos a serem alcançados - já falei sobre isso com vocês alguns anos atrás - escrevo perguntas que quero encontrar respostas ou pelo menos as pistas para as minhas próprias charadas.
Este ano compartilhei em forma de palavras chaves no meu texto para a Fast Company e também na live que faço às segundas lá no perfil da Brunch no Instagram. São essas questões que me guiam na construção da minha agenda deste ano na capital texana.
E cá estou no meu primeiro dia, estressadinha feliz, em ouvir respostas para as minhas perguntas - ainda que não apenas o que eu gostaria de ouvir. Mas talvez essa seja a beleza que habita em viver, é ser lembrado que o mundo segue girando a gente aceite ou não. Ele não vai parar porque não concordei com uma resposta que recebi. Eu que lute, e relembro que se há estresse, há vida pulsante e que administrá-lo é parte inseparável de quem insiste em viver.
Passado o devaneio de leve, aqui um pouco do que vi hoje por aqui:
Me emocionei muitas vezes com as falas da Cheryl. Todo relacionamento precisa de dedicação compartilhada. É assim com amigos, colegas de trabalho, clientes, familiares e claro, com o público de uma marca. Ela lembrou a importância de construir pontes emocionais com o consumidor e que só com o o coração entregue - e vulnerável - é possível mantê-las de pé.
Me diverti com essa dupla irreverente que apresentou método de trabalho muito próximo do que faço na criação de formatos. Eles se especializaram em criação de formatos para criadores de conteúdo e foi uma grata surpresa aprender sobre o way of work britânico.
Aqui foi um tanto indiferente. Entendi a premissa de resgatar os conhecimentos ancestrais para o tratamento dos problemas de saúde que estamos desenvolvendo no pós pandemia - em especial os mentais - mas achei que poderia não ter apenas reforçado a ideia de recorrer a psicodélicos para aumentar a produtividade em prol do capitalismo selvagem, sabe? Come seu cogumelo de boa só para ficar tranquilão e não para trabalhar mais.. enfim.
Saí da palestra sobre psychedelics para o salão principal onde estava Rohit Bhargava, que tive a grata surpresa de conhecer pessoalmente na noite anterior em uma curiosa pajama party - sim todos de pijama menos eu que estava na rua quando recebi o convite e era para aquele momento, então fui do jeito que deu. Entendo que são títulos que captam a atenção do público geral e esse é o papel do Rohit, que está todos os anos por aqui: lembrar do óbvio através de das lentes não-óbvias. Um storyteller nato, daqueles que prende a atenção do público, mesmo quando o assunto possa ser de conhecimento geral. Uma frase me pegou aqui na fala dele: “Pessoas que entendem de pessoas terão sucesso". Se não soubermos entender o outro, teremos grandes e talvez incontornáveis problemas de relações - o que foi muito bem trabalhado na noite anterior em exercícios de social fitness, vestindo pijamas.
Precisamos realmente de mais disso, coisas que nos lembrem que existir é falhar, é ser esquisito, desengonçado e as vezes pode dar certo, mesmo sem o dresscode combinado.
Bjus de uma estressadinha feliz,
Passa